Equilíbrio pessoal

Como o berço familiar influi na formação de um grande campeão

berço familiar

“Foi muito importante que eu tivesse duas culturas diferentes, grega e russa, envolvidas em minha vida”, disse Tsitsipas. “Isso me deu uma perspectiva totalmente diferente das coisas.”

Stefanos Tsitsipas é um tenista nascido em Atenas em 1998 — fará 23 anos em 2021 — e tem se destacado bastante nos últimos torneios. Em abril deste ano, levantou o troféu do Master 1000 de Monte Carlo, torneio que só perde em importância para os Grand Slams.

Stefanos é o jogador mais jovem da história a ter derrotado o trio de ouro do tênis, considerados os melhores jogadores da história do circuito profissional: Roger Federer, Rafael Nadal e Novak Djokovic. Alcançou esse feito em 2019, aos 20 anos, ao derrotar o espanhol Rafael Nadal para atingir a final da edição de 2019 do Masters 1000 de Madrid. Em janeiro de 2021, Tsitsipas tornou-se também o mais jovem jogador da história ao derrotar todos os Big Three pelo menos duas vezes, após vencer Rafael Nadal nas quartas-de-final do Australian Open. 

Equilíbrio familiar

A sua história tem muito a ver com a formação que recebeu dos seus pais. O talento herdado é natural, mas é preciso cultivá-lo com paciência e equilíbrio para produzir fruto. Essa é uma tarefa que não admite improvisações.

Julia Apostoli-Salnikova, a mãe, foi a tenista com a melhor classificação na União Soviética quando tinha entre 16 e 17 anos, além de ser filha de um medalhista de ouro no futebol masculino olímpico. Sua carreira no tênis foi precocemente interrompida por conflitar com os rígidos métodos de comportamento que os treinadores russos impunham aos jovens talentos. Isso fazia parte da cultura do esporte no seu País.

stefanos tsitsipas e pai

Depois que ela se casou com o grego Apostolos Tsitsipas, seu foco no tênis centrou-se nos filhos. Stefanos, o primeiro filho, parecia especialmente preparado para o esporte. O pai assumiu a liderança a partir daí, estudando coachingpara acompanhar Stefanos até o profissional. Mesmo assim, a mãe continuou influindo na sua carreira, ansiosa para garantir que seu preparo permanecesse rigidamente estruturado, de acordo com o ethos soviético que ela bem conhecia.

Excelência pessoal

Para o talentoso e jovem jogador, essa base soviética estrita foi balanceada pelo otimismo e pelo espírito positivo que o pai lhe transmitia. Apostolos jogou futebol profissionalmente e teve uma breve passagem pela seleção da Grécia. Impôs a si mesmo o desafio de aprender mais sobre o tênis e esforçou-se por conciliar plenamente o seu desempenho como técnico e o seu papel de pai. Desde os 11 anos, o pai foi um companheiro constante em suas viagens para torneios juvenis, entendendo com isso que seria um importante apoio para o garoto dentro do competitivo mundo do tênis profissional.

Ao mesmo tempo, estava convencido que era preciso separar bem o seu duplo papel, sob risco de frustrar não só o garoto, mas toda a família. Logicamente, é uma tarefa que exige controle psicológico, desprendimento pessoal e compreensão infinita.

“Ficava mais tenso durante as viagens, mas eu via isso como algo divertido para mim, dizia Stefanos. “Tentei ser profissional e disciplinado, mas foi bom viajar com meu pai. Agora, entendo a importância disso e o grande papel que desempenhou em minha carreira”.

Nem sempre as coisas correm bem entre os dois. A insistência nos golpes da sua preferência e a vontade do pai em ver o filho jogar cada dia melhor, geram conflitos compreensíveis. Muitas vezes as discussões são severas. Porém, há sempre algum membro da equipe que concilia as visões opostas. O seu pai, referindo-se a esses momentos, fala com simplicidade que se sente afortunado por seu filho tê-lo escolhido como técnico e fica recordando isso a ele. “Quando eu tinha a idade de Stefanos, meu pai não estava mais aqui para me ajudar. O meu filho não pode esquecer a chance que ele tem de ter um pai e um treinador ao lado dele. Eu teria adorado.”

Nas quartas-de-final do Aberto da Austrália de 2021, Tsitsipas perdeu mais uma vez os dois primeiros sets contra Rafael Nadal em Melbourne Park. A lenda espanhola estava atrás do 21º título de Grand Slam, mais um recorde incrível. Mas Tsitsipas não desistiu. Lutou e triunfou por 3-6, 2-6, 7-6, 6-4, 7-5 após mais de quatro horas de jogo, com uma virada sensacional.

Stefanos mostrou a sua personalidade contra Nadal, levando-o a uma das batalhas mais emocionantes da história do tênis. Parecia lógico que, após a partida, Tsitsipas fosse até o pai, como num lance extraído do roteiro de um filme. Passou pela sua cabeça que, há uma década, o seu pai largou o emprego para dar ao filho tudo o que ele precisava para realizar o seu sonho. 

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