O artigo introduz algumas noções sobre o desenvolvimento da personalidade e o que pode influenciar nas diferentes etapas da sua formação.
Conhecer a nossa personalidade
Alguns conhecimentos de psicologia são de grande ajuda na vida familiar, profissional e nos diversos relacionamentos em que estamos envolvidos. O estudo das características de cada etapa do ciclo vital ajuda a entender de forma mais adequada cada faixa etária, abordar os conteúdos de forma adaptada, de modo a estabelecer uma relação mais harmônica e ponderada com quem nos relacionamos.
A tipologia da personalidade permite dar conselhos personalizados sobre aspectos a serem melhorados no ambiente da empresa, no estilo de trabalhar, na educação dos filhos e, mais importante ainda, no conhecimento do nosso próprio modo de ser e de atuar.
Não quero dizer que temos de dar uma de psicólogos em tudo o que fazemos. Seria um pedantismo estéril. Trata-se de assumir que um aspecto fundamental do nosso agir é “ter presente” a dimensão humana. O tema em boa parte cai sob o domínio da psicologia, a qual tem sua própria dinâmica e leis que convém conhecer para nos comportarmos melhor e ajudar melhor os outros.
Como definir a personalidade
A personalidade é um conceito que forma parte do nosso idioma, mas é difícil de definir de forma satisfatória. Os especialistas nesse campo, os psicólogos, desenvolveram muitas definições ao longo do tempo.
Em termos simples, podemos definir como o modo de ser de cada um, que vai adquirindo uma particular conformação ao longo de toda a vida. G. Allport, professor de Harvard, já falecido, famoso pelo seu trabalho de pesquisa sobre a Personalidade, fala de uma “organização dinâmica, no indivíduo, dos sistemas psicofísicos que determinam seu comportamento e seu pensamento característicos”[1]. É o que define a pessoa diante dos outros e diante de si mesma, o que se refere à interioridade de um sujeito concreto e a sua capacidade de diálogo.
Uma que me parece bastante acertada diz o seguinte: “a personalidade é um modo estável de se relacionar consigo próprio, com os demais, e com o mundo”[2]. Ainda sim, esta noção, como tantas outras, parece incompleta e limitada.
Vamos tentar, ainda que seja bastante difícil, para não dizer impossível, falar do que pode influenciar a formação da personalidade. As situações de conflito familiares têm, como é lógico, especial relevância como fator de risco. Outros elementos determinantes podem ser a ausência dos pais ou uma relação extremamente possessiva em relação aos filhos. Além disso, diversas intercorrências nas diferentes fases do desenvolvimento, sobretudo na adolescência, também influem consideravelmente.
Com o passar dos anos, surgem também as dificuldades próprias da vida profissional, permeada de sucessos, mas também de fracassos. O desenvolvimento da tecnologia, por falta de uma reflexão ponderada sobre o seu uso e o seu alcance, também pode converter-se num perigo sutil que se insinua furtivamente sem o percebermos, dentro da intimidade do lar.
Logicamente, um grande número desses elementos causadores de deficiências na formação da personalidade, não são determinantes de modo absoluto. O ser humano muitas vezes consegue conduzir satisfatoriamente as tendências do seu temperamento, superar um ambiente tóxico, a influência de uma amizade ruim ou uma forte emoção que o marcou negativamente no passado. A própria religiosidade pode transformar a vida de uma pessoa pelos efeitos autotranscendentes que a vida de fé e de relação com Deus têm sobre o coração humano.
As diversas fases do desenvolvimento da personalidade
Nas próximas publicações, incluiremos um conjunto de textos que procuram descrever, em grandes traços, as principais características psicológicas possíveis de serem encontradas nas diversas fases do desenvolvimento da personalidade.
Em cada uma delas, mantém-se o dinamismo da personalidade humana, pode-se corrigir um defeito de etapas anteriores e olhar o futuro de forma confiante. Há remédio para tudo nesta vida. É importante reintegrar o passado com otimismo, mesmo diante de erros próprios ou alheios, conflitos ou traumas. Quando reconhecemos e admitimos as nossas faltas, pedimos perdão e confiamos nas pessoas queridas, brota de forma virginal e potente um novo impulso de crescimento.
Veremos brevemente um extrato das muitas classificações de principais pesquisadores. Mencionaremos os aspectos mais relevantes para a personalidade nas etapas mais facilmente identificadas e nos momentos de crise, quando se faz necessária uma tomada de decisão, uma reviravolta na nossa trajetória. De uma crise vital, podemos sair inseguros e infelizes, mas também mais otimistas, confiantes e amadurecidos.
[1] ALLPORT, Gordon W. Personalidade. Padrões e Desenvolvimento. São Paulo. EDUSP, 1973.
[2] KELLY, G. A Theory of Personality. The Psychology of Personal Constructs. New York. Norton, 1963.
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